Depois do desmonoramento do glaciar Allalin, pessoas estão ao fundo da avalanche analisando o desastre.
Mattmark - a maior tragédia dos Alpes suíços
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Foi há 60 anos: 88 trabalhadores morreram na construção de uma barragem

- Hilmi Gashi

Há 60 anos, 88 trabalhadores e trabalhadoras morreram na construção da barragem de Mattmark. Foram soterrados por gelo e cascalho em consequência de um desmoronamento do glaciar Allalin. Ainda hoje, a segurança e saúde laboral nos estaleiros da construção é uma questão fundamental.

A 30 de agosto de 1965, uma avalanche de gelo e cascalho soterrou centenas de trabalhadores que construíam a barragem de Mattmark, no cantão do Valais. Oitenta e seis homens e duas mulheres morreram, cinquenta e seis eram trabalhadores italianos. Foi o maior acidente que alguma vez aconteceu nos Alpes. O mais terrível disto tudo: o acidente poderia ter sido evitado. As barracas e cantinas dos trabalhadores, bem como as oficinas, encontravam-se num local muito perigoso, que era conhecido pelos constantes deslizamentos de gelo e terras. Os trabalhadores bem avisaram, mas não foram levados a sério.

Manter a memória viva

No final de agosto de 2025, realizaram-se em Naters e Mattmark cerimónias em homenagem às vítimas. O sindicato Unia também esteve presente. Para a sua presidente, Vania Alleva, «nunca esquecer Mattmark» significa prestar homenagem às vítimas e ser solidário para com as suas famílias. A tragédia que lhes aconteceu é «representativa da situação de inúmeros trabalhadores migrantes que contribuíram e continuam a contribuir para a prosperidade da Suíça, muitas vezes sem qualquer reconhecimento ou gratidão, antes sentindo rejeição».

Desculpas oficiais do cantão e reconhecimento do sofrimento

Numa cerimónia comemorativa no local da tragédia, o cantão do Valais pediu oficialmente desculpas às famílias e à comunidade italiana. «A forma como se lidou com esta tragédia foi insuficiente», admitiu Mathias Reynard, presidente do Governo do Valais, no seu discurso. «Em nome do governo cantonal, apresento desculpas a todas as famílias e parentes das vítimas, à comunidade italiana do Valais e de fora do Valais, bem como a todos aqueles que ainda hoje sofrem com o peso desta tragédia.» Com este gesto, o governo do Valais pretende reconhecer os erros do passado e prestar homenagem às vítimas

Memória na perspetiva das pessoas afetadas

Um novo livro da historiadora Elisabeth Joris dá voz às mulheres que foram afetadas enquanto trabalhadoras ou familiares das vítimas. Ele também mostra que, enquanto em Itália se colocava a questão da responsabilidade pela tragédia, na Suíça o acidente foi durante muito tempo classificado como «não previsível». No entanto, os autos do processo refutam esta posição. Vasco Pedrina, antigo copresidente do Unia, conta como a tragédia de Mattmark se tornou um ponto de viragem da política sindical de migração, levando a uma maior coesão entre trabalhadores. Já no 40.º aniversário da tragédia, o Unia publicou um livro trilingue sobre o acidente do ponto de vista dos trabalhadores. Ele continua disponível.

Segurança na construção: ainda há muito que fazer

Depois de Mattmark, a segurança no trabalho melhorou consideravelmente – graças ao empenho dos parceiros sociais. Mas o trabalho na construção continua a ser perigoso: todos os anos, um em seis trabalhadores tem um acidente de trabalho; de duas em duas semanas morre um trabalhador. Hoje, a pressão para terminar as obras, longas horas de trabalho e o calor representam um perigo para a saúde. O Unia exige:
•    jornadas de trabalho mais curtas,
•    regras vinculativas para parar o trabalho em caso de calor a partir de 33 graus,
•    revogação de penalizações contratuais em caso de atraso na entrega das obras.
Porque nenhum prazo é mais importante do que a vossa saúde. É essa a mais importante lição da tragédia de Mattmark.